Escola de Mário Campos sofre com rompimento em Brumadinho

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“Muitos ainda estão assimilando a perda ou tentando entender de fato o que ocorreu. Existe o medo disso se repetir”. Passados nove meses da tragédia, foi assim que a estudante Ludmila Silva relatou seu sentimento sobre os impactos do rompimento da Barragem B1, da Vale, em Brumadinho (Região Metropolitana de Belo Horizonte). O desabafo foi feito à Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), que nesta terça-feira (29/10/19) visitou a Escola Estadual de Mário Campos, no município de mesmo nome, também na RMBH e vizinho a Brumadinho.

O objetivo foi verificar a situação da comunidade, impactada ainda com tráfego pesado de caminhões e doenças respiratórias pelo ocorrido na cidade vizinha. A escola tem 1.053 alunos.

Conforme os testemunhos, estudantes como Ludmila se ressentem de medidas não adotadas na escola desde o ocorrido, como palestras com profissionais que ajudassem a lidar com a realidade pós-rompimento. “Com o desespero não se pensa em nada na hora, mas depois vemos que um apoio psicológico seria bom”, disse ela.

Sua colega de 3º ano, Maria Rita Prado, acrescentou não ter visto apoio psicológico de um profissional na escola ou perto das comunidades nem nas primeiras horas após o ocorrido. “Na hora mesmo foi um caos e só viemos a saber o que tinha ocorrido pelos jornais. Faltou mais informação para nós”, disse Maria Rita, no que Larissa Gabriele concordou. “Depois de algo assim, muitas pessoas não vivem como antes, e ajudaria ter um psicólogo”, completou ela.

Representante do Sindicato Único dos Trabalhadores na Educação de Minas Gerais (Sind-Ute/MG), Rosline Gonzaga disse que esse ambiente pós-rompimento aumentou a pressão sobre a categoria, que já enfrentaria temores com a fusão ou a municipalização de turmas e também com atrasos na definição de como será a designação dos servidores contratados para o ano que vem, entre outros problemas. “Quem tomava remédios antes de Brumadinho dobrou a dose, e quem não tomava passou a tomar”, ilustrou ela quanto a casos de depressão e ansiedade na categoria.

CPI – A presidenta da Comissão de Educação, deputada Beatriz Cerqueira (PT), que solicitou a visita, destacou que a comissão tem ido a escolas afetadas de alguma forma pelo rompimento na mina da mineradora Vale, com o intuito de buscar reparações para os atingidos. Ela ainda frisou que a verificação nas escolas é inclusive um das recomendações contidas no relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Barragem de Brumadinho, da ALMG, que investigou a tragédia. “Ninguém melhor do que aqueles que estão na escola todos os dias para saber das consequências desse crime”, ressaltou a parlamentar.

Permissão para tráfego de caminhões é questionada

A comunidade escolar ainda expôs à comissão estar sendo obrigada a conviver com o tráfego pesado de carretas e caminhões na entrada e saída dos alunos, sem falar em casas rachadas e asfalto danificado pelo movimento intenso, e ainda com doenças respiratórias devido à poeira.

Segundo a professora e vereadora Andresa Rodrigues, inicialmente o tráfego pesado no interior de Mário Campos, como rota alternativa após o rompimento em Brumadinho, havia sido proibido. Contudo, segundo denunciou ela, acordo com a Vale teria levado a prefeitura a permitir o tráfego, em troca de medidas que seriam mitigatórias por parte da mineradora, o que foi rebatido por muitos durante a visita.

A liberação do trânsito de caminhões na cidade teria sido dada em troca de R$ 2,5 milhões, a serem investidos pela Vale na construção de uma creche no bairro Jardim Primavera e de uma unidade de saúde no município, e ainda na recuperação de um córrego.

Porém, a creche deverá ser construída no interior de uma quadra de esportes do município, no bairro Jardim Primavera, e que teria seu uso modificado. Seriam implantados “caixotes” no espaço, como disseram professores quanto à divisão do espaço por repartições, o que Andresa e outros classificaram como impróprio para receber crianças de zero a três anos de idade.

“Não temos na cidade uma creche pública, o que é primordial, mas não dessa forma”, criticou Andresa, cobrando que haja maior transparência e diálogo em relação ao acordo.

Já o professor Vander de Almeida revelou que ele, a esposa e o filho bebê sofrem com problemas respiratórios desde o rompimento da barragem. “A situação é de caos. O clima está seco, ainda temos a cultura da queimada e agora mais esse fluxo de caminhões com minério dentro da cidade”, criticou ele.

“Esse crime da Vale está nos matando aos poucos”, acrescentou a professora Raquel Bitencourt sobre os mesmos problemas, aos quais acrescentou a contaminação do Rio Paraopeba pela lama da barragem. Ela ainda reforçou que o fluxo de caminhões na porta da escola se dá numa via que é estreita, e sem a colocação de placas de trânsito para alertar a comunidade de riscos de acidentes ou de redutores de velocidade. Apenas faixas teriam sido pintadas de amarelo até o momento, e com material impróprio, que se apaga horas depois.

Mapeamento poderia indicar correlação com automutilações

O diretor da escola, Igor Jacinto Andrade, defendeu que seja feito um mapeamento, nas escolas, de quantos e quais alunos, pais e professores foram afetados mais diretamente pela tragédia. Ele acredita que isso poderia  nortear ações da escola e manifestou preocupação com o futuro de famílias que hoje estão recebendo auxílio financeiro da Vale, uma vez que essa ajuda se encerrará em breve.

Diversos professores ainda defenderam a manutenção, na escola, das turmas de ensino integral.

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